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Tuesday, July 29, 2014

Décima Sexta Epístola

Nikiszowiec - Arredores de Katowice, Vitor Vicente, Julho de 2014


Dear K. 

Durante muito tempo, necessitei de silêncio para ler e, sobretudo, para escrever. Depois, sem que tenha dado conta da mutação, o silêncio metamorfoseou-se numa certa banda-sonora, tendencialmente a cair para o Jazz e sempre instrumental. 
Mas em Katowice a acústica é outra. Alterno entre o vai e vem da auto-estrada que chega ao alto deste décimo andar e o televisor ( e voltar a dizer televisor em vez de TV, tem para mim uma ternura do tamanho do mundo). 
Acima de tudo, o que te quero dizer, K, é que adoro a tua orquestra. Como ela toca as sinfonias do silêncio Silesiano, entrecortado pelo chegar e partir de um ou outro "tram", de um ou outro programa de televisão, também ele entrecortado por um ou outro "reklama" (e o fato de a palavra "reklama" ecoar a palavra "reclame",  palavra que eu entretanto esquecera, também tem para mim tanta ternura). 
Tudo o resto é ruído humano, demasiado humano para que nem precise ser expulsado pela orelha por onde não entrou. É que, chegado a este estágio, já quase nada me entra por orelha nenhuma. Cheguei à chamada surdez seletiva e sou snob até à ponta das orelhas com que pouco mais mais ouço do que o silêncio Silesiano e a acústica de Katowice. 

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