Translate

Friday, July 11, 2014

Sétima Epístola

Linha do Tram no Centro de Cracóvia, Vitor Vicente, Julho de 2014

Dear T.,

Volto a sentir-me em casa, tal como em Praga. Não só em Kazmierz, senão por toda a cidade.
Da janela deste quarto de Cracóvia, tal como no respetivo em Praga, vejo-te passar. Exato, a ti, a quem teimo em tratar-te por T. Por insistir em chamar-te de Transilesiano, espécie de primo do Transiberiano, por quem tenho maior empatia do que pelo elétrico 28 de Lisboa.
(Um pequeno parênteses para constatar o espanto dos estrangeiros que conheço e que tentam, sem sucesso, "pegar comigo" com referências a portuguesas coisas. Não é culpa dos ditos, mas eu deixei a Pátria cedo, com vinte e três anos, e emociono-me mais quando me contam episódios de Barcelona ou de Dublin). 
Voltando a ti, T. Que continuo a ver passar de um lado para o outro. Que aposto seres o mesmo que eu vi que passar da janela do quarto de Praga. (Não vou abrir parênteses para Praga, por caber a esta epístola estar no encalço do "tram"). 
Todos os "trams" são um e o mesmo. Todos ligam - e convidam-me às - cidades que eu não conheço e onde me iria sentir em casa. Porque todos os "trams" do Leste proporcionam viagens no tempo e no espaço. Todos são parte do palco ambulante dos poetas saudosistas que, tal como os respetivos futuristas, ficam frenéticos com as máquinas - no caso, com calhambeques e ferrugem velha afim.
(Por falar em saudade, abra-se um pequeno parênteses para a sede. Sim, eu tinha saudades de ter sede, do desespero por uma bebida fresca, em hidratar-me e sentir-me um humano outra vez. Em Dublin podem-se contar pelos dedos de uma mão os dias em que se sente sede, em que uma pessoa se sente seca. Essa sensação apenas fez parte dos dias em que se viaja, é pertença (a posteriori, lembrança) das férias.)
Viajar, viajo agora sempre que, daqui do quarto, te ouço passar. Viajo sem que do quarto, sequer, tenha que sair. 

No comments:

Post a Comment