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Wednesday, December 24, 2014

Quadragésima Primeira Epístola

Árvore de Natal com Spodek ao fundo - Katowice, Vitor Vicente, Dezembro de 2014

Dear K.,


Quer se queira, quer não, o nosso mundo é cristão. O calendário da civilização, o relógio do quotidiano rege-se pela data que atribuíram àquele que passaram a chamar de Jesus e também de profeta.
Quer se queira, quer não, o nosso tempo é capitalista. Por mais que o comunismo tenha estado impregnado em cidades como tu, na hora do Natal acendem-se luzes e ouvem-se vozes que durante todo o ano estão na sombra ou em silêncio.
No teu caso, ao contrário do comum, a igreja católica é sinal de resistência ao regime. Talvez por isso ainda se continuem a ver tantos crucifixos, tanto nas casas como nas instituições públicas da Polónia.
Eu retirei o meu da casa onde vivi durante a segunda metade do ano que termina. Assim como tenciono fazer o mesmo na casa em Cracóvia, para onde me mudarei assim que o novo ano começar. Não se trata de um protesto, senão duma questão estética. Removo os crucifixos da parede, como quem remove quadros. 
Passemos então ao parágrafo do protesto. Contra o fato de o mundo me ter dito para esconder a bugiganga judaica no dia em que o senhorio veio cá ver como eu tenho tratado a casa. Porque nunca se sabe se as pessoas aceitam ou não o que as outras pessoas simplesmente são.
Face à ameaça, ultrapasso-a com a anual graça de ver a espécie, incluído os anti-semitas, celebrarem o dito nascimento de um menino judeu. Onde estão os tipos dos boicotes? Calados que nem ratos, a lamber os pratos? Enrabai-os com rabanadas.  

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