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Wednesday, December 31, 2014

Quadragésima Oitava Epístola

 Terminal central de Ostrava, Vitor Vicente, Dezembro de 2014


Dear K.,

Existe um determinado tipo de pessoas com quem, ocasionalmente e sempre num certo contexto, nos cruzamos e de quem sabemos que, um dia, passarão a ser pertença do passado e da irrisória memória futura. São pessoas que sobressaem por serem sui generis, seja pelo trato ou por algum tique e trejeito com o seu quê de engraçado.
No teu caso, K., encontrei umas pessoas que, desde o dia em que pela primeira vez me vi obrigado a lidar com ela até hoje, dia em que nos despdimos, se destacou por um trato tremendamente tétrico: o de saber mais que suficiente de Inglês para poder comunicar com os clientes e simplesmente não querer, apenas para nos fazer passar por palhaços.
Acresce que esta criatura trabalha num cyber em pleno terminal de comboios e de autocarros. Tem (segundo a tabuleta) o estabelecimento aberto 24 horas por dia e 7 dias por semana - o que é quase tão incompreensível quanto o esforço empreendido em ser rude, dado que - pelo menos que eu saiba - não existe concorrência no centro da cidade.
Ciente de todo este trato e de que podria sacar as fotocópias num guichet junto das Universidades, dirigi-me a essa rua. O guichet parecia fechado. A fim de me assegurar, através do meu parco polaco, tentei ler o horário de abertura durante a quadra. Parecia-me que estava aberto. Determinado, rodei a maçaneta e abriu-se a porta. Nunca antes este guichet me pareceu tanto a uma obra de arte. 
Feitas as fotocópias, tomei o caminho do cyber como quem toma o caminho de uma caverna habitada por um monstro. Era imperativo imprimir uns papéis e a impressora de que me costumo socorrer, ontem, tinha ficado sem tinta. 
Quanto ao tal tipo, continuava sem tirar nem pôr o mesmo: intratável. Eu comportei-me com a finura do costume. Até que, na hora da saída e que, entre os meus dentes, foi a hora da despedida, em vez de fechar a porta como sempre, ou fechar a porta com força, deixei-a delicadamente aberta. Para que lhe afague um frio, ou pelo menos um vento que lhe diga que, apesar de ter o estabelecimento entre um vai-vem de gente, nem ele, nem ninguém quando e onde pode vir a precisar de quem.

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