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Friday, December 26, 2014

Quadragésima Terceira Epístola

Spodek - Katowice, Dezembro de 2014, Vitor Vicente


Dear K.,

Continuemos no mesmo capítulo. Não saiamos dos sonhos. 
Ao despedir-me de ti, enquanto me despeço de ti - ou melhor, enquanto revejo o modo como me expresso enquanto me despeço - face à ausência de referências a sítios ou pontos citadinos e concretos, assalta-me a sensação que nada mais vivo do que numa nuvem de sonho e que mais não vim aqui do que sonambular.
São poucas a menções aos teus lugares-chave. Como se fosses uma cidade sem sítios. Ou será que os teus detractores tinham razão, quando me diziam que não tens nada para ver, nem ofereces coisas para fazer? 
Não vou começar uma discussão, apenas dizer que discordo deles. Assente nisso, afirmo segunda vez a minha admiração por não haver uma palavra sobre o Spodek, nem rasto do Rynek. Dirão agora outros detractores - no caso, os meus - que assim é por nunca ter posto o pé no Spodek. Discordo também deles. O Spodek é uma sala de espetáculos em que o principal espetáculo é o edifício em si, visto de fora e à noite. 
Não há então outro porquê de não haver referências senão o meu lado lunar, o ser sonâmbulo à luz do dia e ter tendências autistas. Nem mesmo o fato de o Rynek ser pouco digno do mesmo nome, se comparado com outras cidades polacas, serve para me esconder atrás de desculpas esfarrapadas.
No final, o que fica é que só a esses sítios me refiro quando me recordo de que nunca os referi. Que não fica outro vestígio senão um certo rastilho. De quem quer continuar a levar a sua vida como uma onírica odisseia. 

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