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Sunday, November 09, 2014

Trigésima Terceira Epístola

Antigas fábricas da Cuf - Barreiro, Vitor Vicente, Outubro de 2014 


Dear B.,

Quiseram os desconhecidos desígnios de D-us que fosse convocado um plenário no preciso momento em que eu me lembrei de atravessar o Tejo.
Não quis pagar táxi e optei por ficar em terra. Não numa terra qualquer, senão em ti, minha velha terra.  De onde tão velho se tornou o meu conhecimento que, com os anos, se me tornaste minha velha terra estrangeira.
Não sem surpresa, pois já na Silésia o suspeitara, o mais que deambulava, mais me lembrava das terras por onde agora o meu quotidiano se assentara.
A resistente presença da réstia das fábricas de outrora, o polígono industrial que, à falta de catedral, comanda a cidadania, uma certa cultura inconsequente com os seus movimentos de cultura faz-de-conta mascarados de contra-cultura, toda essa doce e decadente paisagem fez-me pensar que nunca como antes, que nunca como aqui agora, a Polónia e Portugal puderam ser tão parecidos. Seja no Barreiro ou em Palmela, seja em Katowice ou em Chórzow.
Tal era o meu pasmo que, ao fim de cinco dias na margem sul do Tejo, persistia-me o espanto por ouvir alguém falar Português por estas bandas. Como se ao fim de cinco dias eu continuasse imerso num sonho Silesiano.
Lisboa, do lado de cá do Tejo, parecia-me tão longe e por isso tão tentadora. Como Cracóvia me parece de Katowice e por isso tantas vezes recebo apelos de partir e de ir embora. 

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