Uma cerveja na cidade - Cracóvia, Vitor Vicente, Janeiro de 2015
Dear K.,
Dada a sua natureza derradeira, escrevo-te esta quinquagésima epístola sob a forma de epílogo. Escrevo-a já em Cracóvia e envergonhado.
Escolher entre ti e Cracóvia tratou-se de escolher entre ter um nome ou ser um número e também entre viver fora das muralhas do mundo ou num lugar onde o mundo aconteceu (ou, devido ao turismo, ainda vai acontecendo). Estas escolhas, como tantas outras, acarretam o preço das consequências da nossa preferência. Entre exercer o verbo ter, o que nos tempos que correm traz-nos tanta importância. Ou assumir o verbo ser de modo anónimo, por não haver outro de existir num mundo massificado como o nosso.
Há ainda um terceiro verbo. O de conquistar uma cidade, em cujas ruas eu agora caminho e antes apenas através da janela do autocarro. Especialmente essas primeiras ruas que se começam a ver, ao aqui chegar e como que anunciam uma certa charmosa ribalta.
Tenho vivido momentos que valem todo o mundo que vi, que fazem que toda a vida tenha valido a pena. Nunca antes senti uma gratidão tão grande. Estou-te encarecidamente agradecido por te teres atravessado no meu caminho.