Translate

Tuesday, September 09, 2014

Vigésima Sexta Epístola

Mesa de matraquilhos na noite de Cracóvia, Vitor Vicente, Julho de 2014


Estive quase para te tratar por B2 ou por B&B. Também te poderia ter tratado por C, pois estás no mesmo edifício que o meu escritório e costumo passar pelo teu espaço para abastecer o estômago antes de entrar ao trabalho.
Para ser sincero, não te assemelhas a nada disso. Pareces-te antes a um velho prostíbulo, mal e porcamente restaurado. Em quê?, perguntas-me. Em tudo, respondo. E enumero.
Começo pelo pessoal que te frequenta. Afinal os fregueses é que fazem os lugares. A fauna é francamente elitista.  Muito managers das empresas e sobressaem os expatriados. (A Polónia, tal como Portugal, é um país pobre em vários aspetos, logo estupidamente elitista). Mas o que predomina são os casais que se destacam por as respetivas senhoras transportarem os pratos à mesa, onde o marido as espera. Ou os casos em que o homem, normalmente mais velho, se senta à mesma mesa que uma miúda mais nova que só o escuta e a todo o assunto assente com a cabeça.
A música, para ajudar à acústica de prostituta, tende a ser atmosférica, senão suavemente atravessada por uma voz feminina que só sussurra como quem suplica ou pede socorro. Já as paredes e os ocasionais quadros e os sofás roxos, juntamente com os jarros, só ajudam a crer que, a qualquer momento, pode crescer um varão do chão e alguém anunciar que a próxima se chama Tatyana. 
Toda a tua realidade é a do revivalismo. Talvez sejas um dos últimos e derradeiros redutos com réstia Soviética em terras da Silésia. Consegues surpreender tudo e todos, até quem já via a coisa preta por pretas não aparecerem por estas bandas. 
Depois da magia negra, bem que podias passar ao milagre dos matraquilhos. 

No comments:

Post a Comment