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Wednesday, September 10, 2014

Vigésima Sétima Epístola

Café no Hotel Campanile - Katowice, Vitor Vicente, Julho de 2014

Dear K., 

Coube-nos este espontâneo descontentamento pelo mundo e pelo tempo que nos foram dados. Almejamos mais, melhor - mas não acreditamos no melhor dos mundos possíveis, nem que alguém possa mudar o mundo para algo melhor. O nosso incomum contentamento consegue cumprir-se em poder permitir-se a ficar parado diante do mar. 
Mas deixemos o mar para mais adiante. Esse mar que queremos que seja nosso. Pelo caminho erguer-se-ão montanhas, até que tenhamos conquistado esse território tremendo que, mais do que um espaço, tem que ser um tempo que já em si contemple um espaço.
Nós gostamos do tempo do aeroporto. Quase tanto como do tempo que há em estar um no outro. No fundo, do tempo da viagem, incluindo o que lhe é prévio e o que lhe é posterior. Encontramos no tempo da viagem um tempo vago, leve, tão leve que pode ser levado dentro do vento e ter a imunidade invejável dessas coisas que, quanto mais ambulantes, mais inalcançáveis
Dessas coisas que concluem um ciclo mais que perfeito, sem que saiam do mesmo sítio. Coisas tão simples e tão revestidas de significado, como um templo ou uma tenda. Em que tudo tem que ter um termo para que se assegura o próximo mote. Em que o amor é a única arma apta e pronta a abater o tédio e outras formas mundanas da morte.  

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