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Sunday, August 31, 2014

Vigésima Quarta Epístola

Vista do ginásio - Katowice, Vitor Vicente, Agosto de 2014

Dear B.,

Eu nunca te disse que te tenho uma dívida. Aliás, desde que abandonei a terrinha, jamais voltei ao teu templo. Tentei, é certo que tentei. Assim como, cabisbaixo, confesso que não consegui entrar para te dizer quanto aprendi contigo.
Admiro-te sem que nunca te tenha chamado de mestre. Nem quando frequentava o teu templo - na época, eu era demasiado refratário para te tratar enquanto tal, embora fosse dos poucos que te tratava por tu e tu (sim, tu) encontravas nisto um misto de elogio e de deferência.
Eis que é chegada a vez, desta cidade que tanto se parece com a nossa e através desta epístola,  de assumir o meu imenso agradecimento. A fim de assinalar as repercussões dos teus ensinamentos, tomo a liberdade de recapitular o meu percurso, cidade por cidade e respetivos ginásio por ginásio.
Ainda em Portugal, apenas interrompi as idas ao teu templo durante um mês. Foi o tempo que durou até ao dia em que me telefonaste para me dizer: "Corri com ele, então podes voltar quando quiseres". Em Barcelona, tal como tu sapientemente me adiantaste, tanto os ginásios como os instrutores eram estupendos. No entanto, eu era ainda independente o bastante para poder desfrutar das infra-estrturas sem outros instrutor senão tu à distância. Depois, em Dublin, foi o descalabro. Eu próprio descambei ao ver-me rodeado por tudo o que podia suscitar a tua irritação.
Só que em Katowice, como em muita outra coisa, sempre que vou ao ginásio, sinto-me de volta à velha casa. Aqui dá gosto ir ao ginásio, como gosto dá ir a um bom restaurante em qualquer parte do mundo. Sobretudo, quando ouço aquelas músicas de merda, a que chamo de banda-sonora da "silly season", e que, enfim, farão parte da acústica de quando comecei a construir um quotidiano em Katowice. De quando tudo começou a fazer sentido. 

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