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Monday, August 11, 2014

Décima Nona Epístola

Cela em Birkenau II - Auschwitz, Vitor Vicente, Agosto de 2014


Dear S.,

Tenho tantas saudades tuas. És como uma irmã -  uma irmã maior. Uma irmã assim, maior de idade, é mais do que uma irmã. É uma irmã-mor. Uma irmã-mãe. Mais mãe do que as muitas mães deste mundo e do outro.
Sinto falta das conversas que tinhas a caminho ou vindos do trabalho. De te intercetar no caminho, subitamente, após te avistar, a andar como só os Judeus podem andar.
O meu tópico favorito era o Holocausto. Assim dito, a seco, pode parecer mórbido, de mau-gosto. Mas nós usávamos o Holocausto como contexto para tentar adivinhar qual seria o comportamento dos nossos colegas e, desta maneira, tentar compreendê-los um pouco melhor. Tudo hipotético, claro. Primeiro, porque nunca sabemos que esperar das pessoas - por mais que passemos, de Segunda à Sexta, oito horas perto delas. Segundo, porque numa situação como o Holocausto não há como saber quem seria o que seria ou deixaria de o ser. Tanto assim que aquele que nomeámos de Schindler revelou-se um anti-semita disfarçado.
A sós, eu continuo a fazer este exercício com os meus colegas - a que tu chamarias de bgiginas. Aqui, como em todo o lado, há de tudo. Vítimas e vilões. Contudo, o povo polaco, de tão subserviente, de tão dado a acatar ordens, é a presa perfeita para os animais arianos. Isso deve-se (e cito uma bgigina de origem Judia) à falta de auto-estima, de auto-confiança.
Não é por acaso que Auschwitz foi levado a cabo pelos Alemães em solo polaco. Passe os estereótipos, poderias imaginar, por exemplo, os Franceses a cometer tamanhas atrocidades aos Italianos no seu próprio território?

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